Antonio Adib Chammas,um grande filantropo da Arte.
Leonardo Mota Neto *
Por que escrevo isso hoje? Porque estamos nos 172 anos de nascimento,em Aix-la-Provence,do pintor impressionista Paul Cézanne.E o que isso tem a ver com o Brasil?Muito. É o que narro a seguir.
Um homem de semblante calmo, como se nada tivesse a explicar a alguém,parou seu carro em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
Pediu ao motorista que o esperasse. Tinha todo o tempo do mundo que desejasse. Era um construtor de impérios e não precisava provar mais nada.
1955 estava sendo um ano bom para ele. Tão bom que podia se dar ao prazer de uma doação de imenso valor (infungível,sem preço, coisas fora do comércio) ao melhor museu de sua amada cidade.
Muitos o haviam na vida chamado de caipira.No fundo ele gostava. Os construtores de impérios sempre foram caipiras.Por que não esbanjavam seu império, uma cosia comum aos homens da cidade.
Ele havia aprendido a trabalhar de sol a sol, naturalmente ajudado por aquele toque de Midas, e ainda tinha um querido irmão por perto para se ajudarem..E os “amigos de nós”.
Era um homem de sorte, e a sorte ajuda os amigos dela.Contou com um pai que lhe deu a âncora para que sua navegação de vida tivesse uma bússola segura.
Foi ao banco de trás do carro e apanhou a bem embalada encomenda, a preciosa jóia.
Era um óleo sobre tela do pintor famoso, muito famoso, universalmente, Paul Cèzanne. A preciosidade de 89cmsx90cms estava enrolada num papel pergaminhado que mais parecia um elogio à seda.
Tomou a tela em seus braços e dirigiu-se ao curador do museu.Assinou o termo de doação do “ O Grande Pinheiro” de Cézanne, em nome dele, de João Chammas e do amigo Geremia Lunardelli.
Barões da indústria, renascentistas da industrialização paulista e brasileira, rompedores do ciclo atávico da monocultura, inventores do nova era,curvavam-se,contritos,civilizados,filantropos, diante do monumento à arte.
Antonio Adib Chammas, o Mecenas, ex-deputado federal, injustamente cassado em 9 de abril de 1964 pelo marechal Castello, no mesmo ato que baniu da política Abraão Fidelis de Moura, Doutel de Andrade, Cesar Prieto e tantos outros,fruto das mesquinharia de perseguições e daquilo que o homem tem de mais odiento – a inveja dos pequenos diante dos dínamos - desejava que a famosa obra de arte fosse compartilhada por todos os paulistanos e brasileiros.
Despreendimento. Desambição.Doação.Não eram exatamente as qualidades de D´ Artagnan?
Aquele homem injustiçado nunca se deixou abater. Semeou por São Paulo o único bem que perdura por gerações se multiplicando como pães do espírito fermentados pela vontade - a educação. Escolas germinaram em várias cidades.Muitas hoje têm o seu nome, como também viadutos e outras benfeitorias.
Que melhor resposta a seus detratores Antonio Adib Chammas poderia ter dado que não plantando grandes pinheiros por onde passou?Quero um dia escrever mais sobre esse fabricante de futuro.
A visão desse grande homem, sem tê-lo conhecido, me veio à cabeça com perfil inteiro ao estabelecer uma similitude de seu ato de generosidade com os do Velho Capitão, Assis Chateaubriad.outro gigante que vivia além de seu tempo, Mecenas da arte contemporâea brasileira e que praticamente sozinho construiu o acervo do Museu de Arte de São Paulo, MASP,que leva o seu nome,com doações de preciosas obras.
Fundador dos Diários Associados,Chateaubiand foi meu primeiro patrão, em O Jornal, do Rio,idos dos 60.Nascido em Umbuzeiro, na Paraíba, 1,60 de altura, um cangaceiro da cidade como se auto-intitulava,que teve a ousadia de presentear a Rainha Elizabeth II com um chapéu típico do cangaço,foi o homem mais cosmopolita que conheci.Agora estou conhecendo Antonio Adib Chammas,outro que fez o Brasil ter orgulho de si mesmo.
No MASP,estão para sempre depositadas na sua coleção obras de Rafael, Bellini, Andrea Mantegna e Ticiano, na Escola Italiana.Os retratos das filhas de Luiz XV, pintados por Nattier, as Alegorias das Quatro Estações de Delacroix e as pinturas de Renoir, Monet, Manet , Cézanne, Toulouse-Lautrec e também as de Van Gogh, Gauguin e Modigliani registram a importância da arte produzida na França, presentes na Coleção.
O MASP também possui a coleção completa de 73 esculturas de Edgar Degas, além de 3 pinturas do artista.A Arte Espanhola está representada por El Greco, Goya, Velázquez, e a Arte Inglesa por Gainsborough, Reynolds, Constable e Turner, entre outros. Dentre os flamengos, citamos Rembrandt, Frans Hals, Cranach e Memling e o tríptico de autoria de Jan Van Dornicke.
Na Arte das Américas marcam presença Calder, Torres Garcia, Diego Rivera e Siqueiros, dentre os muitos artistas brasileiros, Almeida Junior, Cândido Portinari, Anita Malfatti, Victor Brecheret e Flávio de Carvalho.Fazem parte do acervo também núcleos de: Arqueologia, Esculturas, Desenhos, Gravuras, Fotografias, Maiólicas (cerâmicas italianas dos séculos XIV ao XI), além de Tapeçarias, Vestuário e Design.
A convite do “Musèe d’Orsay” o MASP integra desde 2008, o “Clube dos 19”, que congrega os 19 museus cujos acervos são considerados os mais representativos da arte européia do século XIX, como o Musèe d´Orsay, The Art Institute de Chicago, Metropolitan de Nova York, entre outros.
Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o acervo do museu vem sendo enriquecido e ampliado através de doações de pessoas físicas e de parcerias com empresas e instituições
O Grande Pinheiro floresce ente elas, como a lembrar para sempre a epopéia de Antonio Adib Chammas, o bandeirante das artes e dos negócios que teve, ao lado de seu irmão João, um acendrado amor pelo Brasil. Plantou pinheiros de vida por toda a parte por onde passou.
Pinheiro é a árvore mais alta, mais útil ao homem, mais generosa em sub-produtos. Uma árvore digna dele.
(*) Leonardo Mota Neto,67, é jornalista político em Brasilia, editor da Carta Polis